Economia circular, muito além da reciclagem



Por Marcos de Oliveira Santos

 

Durante os primeiros meses de 2020, não faltaram preocupações a respeito da saúde e da economia em quase todas as áreas de atividade. Para um período como este tão atípico, temas conectados com a preservação ambiental deixaram de ser prioridade da maioria das empresas e das pessoas. Afinal, a sobrevivência no curto prazo se sobrepõe a outras ameaças que talvez virem um desafio maior a longo prazo…

Seria plausível então deixar de lado, por exemplo, projetos para aproveitar melhor os recursos da natureza por causa da crise mundial que estamos passando?  As empresas poderiam aproveitar este momento para encontrar oportunidades de novos negócios e reforçar a aliança com a preservação dos recursos do nosso planeta.

A partir desta reflexão, a ideia deste artigo é incluir a economia circular como uma dessas oportunidades. O conceito da economia circular visa garantir o reaproveitamento de tudo o que consumimos, muito além da reciclagem. Como é possível então ir mais longe do que o simples ato de descartar alguma coisa ao final de sua vida útil?

Tomando-se como exemplo uma empresa que deseja implantar o conceito da economia circular para ganhar vantagem competitiva, um caminho a seguir passa por implantar ou reforçar seis atividades típicas do dia-a-dia de “empresas circulares”, que são: regenerar, compartilhar, pensar em “loops” ou ciclos, intercambiar, virtualizar e otimizar.

Regenerar é uma atividade que pode ser adotada no “berço” do produto, na sua concepção. Para isto, pode-se considerar a possibilidade de ser reutilizar de maneira mais simples todos os seus componentes. Formas de adesão a esta atividade podem ser: adotar matérias primas à base de vidro ao invés de plásticos, passando também por embalagens mais sustentáveis; implantar programas de redução da dependência de energias não renováveis e escolher materiais isentos de toxicidade que pode impedir o seu posterior reaproveitamento. Fazer parte de consórcios facilitadores de reutilização e, assim, convencer os consumidores do produto que vale a pena optar por um produto que provém de empresas sustentáveis.

Compartilhar aqui tem duas vertentes. Uma delas é a fazer parte de um grupo de empresas para utilizar recursos, como seria a união de fornecedores de componentes para a indústria. Outra vem do conceito mais atual de cooperativismo onde a propriedade deixa de ser vital.  Nesta área de compartilhamento, há várias possibilidades. O usuário pode contratar serviços ao invés de comprar o produto. Você já imaginou como seria a locação de luz? Seu ambiente ficaria sempre bem iluminado e com menor consumo de energia por um período pré-determinado. Após este período, a empresa locadora da iluminação substitui as luminárias por outro período, mantém o consumidor em nível de tecnologia de ponta e ainda garante que os equipamentos antigos sejam regenerados ou tenham um destino correto.

Pensar em “loops” ou ciclos é a forma mais parecida de todas dentro dos conceitos de economia circular e que também se conecta com as ideias vigentes de reciclagem. Neste nível de atividades, pode-se criar embalagens, pallets ou sistemas de transporte de possam servir como “vai e vem”. Associar-se a consórcios que se dedicam à logística reversa e aproveitam os materiais reciclados. Também vale aqui criar programas de retorno de produtos usados ou obsoletos para incentivar o giro de matérias primas estocadas “nas gavetas” ou em depósitos.

Intercambiar em economia circular passa por áreas tradicionais e inovadoras. Não há nada mais tradicional do que pensar que o produto usado possa ser substituído pelo novo com a troca de apenas aquilo que interessa, como seria uma lâmpada nova dentro de uma luminária antiga.  A intercambialidade dentro desta ideia é possível se placas, conectores, fontes etc. permitam que peças mais novas entrem em seu lugar após seu uso, como se fossem amortecedores novos de um veículo bem rodado. Quanto às atividades inovadoras, cabe nesta área o conceito de peças, componentes ou estruturas intercambiáveis fabricadas por impressoras 3D, com o mínimo de matérias primas, que as criam por “adição” de materiais, ao invés de “subtrair” metais, plásticos etc. via corte ou fresagem.

Virtualizar em economia circular vem de mãos dadas com: big data, inteligência artificial, visão e comunicação entre máquinas, internet das coisas, internet através da luz (LiFi), automação, “block-chain”  (uso de chips implantados em produtos que permitem reconhecer origem e destino), além do amplo conceito da indústria 4.0. Assim, todos estes novos campos de atuação podem se unir com objetivos de melhorias de processos com espírito de preservação de recursos finitos com as infinitas possibilidades do mundo virtual.  Na área de iluminação, pode-se citar os avanços da automação para aproveitamento da luz natural e redução do consumo de energia, além da implantação de sistemas de gerenciamento que permitem controlar todos os equipamentos de um determinado local.

Otimizar é uma categoria de atividades que inclui o aumento da vida útil dos produtos. Por um lado, pode haver resistência da indústria pelo fato de que o ciclo de compra de seus produtos fica reduzido; entretanto, produtos mais duráveis fortalecem a marca e aumentam a fidelidade do consumidor, permitindo maior participação de mercado.  Cabe uma observação importante nesta área: otimizar pode ser realizada com programas de redução de custos, mas eles não serão muito efetivos sem o uso dos conceitos das outras cinco atividades acima.

Se você vem pensando em maneiras de preservar seu negócio ou melhorar sua renda, quem sabe a adoção de alguns conceitos acima possa ser um bom começo para novas oportunidades. De quebra, você irá contribuir com a preservação ambiental e quem sabe no futuro próximo, aliviar os eventuais efeitos negativos do uso indiscriminado de recursos do nosso planeta.


Sobre Marcos de Oliveira Santos
Engenheiro Eletricista pela “Escola Politécnica da USP” e “Escuela Politécnica del Litoral” em Guayaquil, Equador. Pós-graduado em Gestão de Negócios pela “Fundação Instituto de Administração” (FIA-SP). Mestrando em Gestão Integrada: Meio Ambiente, Qualidade e Prevenção pela “Universidad Europea del Atlántico” de Santander, Espanha. Especialista em iluminação. Atuou na ABB, OSRAM e LEDVANCE onde exerceu atividades de liderança em diversos cargos no Brasil, Alemanha, Equador e Colômbia. Atualmente é diretor-executivo da Mdo7 Desenvolvimento Profissional, dedicada a palestras, publicações e consultoria. Professor convidado na Escola de Medicina da Santa Casa de São Paulo e no IPOG, Instituto de Graduação e Pós-Graduação, com sede em Goiânia.
e-mail: [email protected] | www.iluminacaodescomplicada.com.br | Instagram: @marcolivsantos | LinkedIn: marcolivsantos




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