Concatenar as emoções para a arquitetura



por Jessica Alves Carbone

 

Do que é feita uma boa arquitetura? Será que além de ergonomia, conforto ambiental, estilo, materiais sustentáveis, podemos trazer algo inovador? Minha proposta é trazer a Emoção como ferramenta projetual. Desde Abril de 2020 me debrucei sobre os estudos de Paul Ekman e de Daniel Goleman para personificar os conceitos de Emoção e toda base que a neurociência nos aponta sobre esse tema, para o ambiente construído. Acredito que uma arquitetura que traz a emoção não é somente uma arquitetura naturalmente empática, mas carrega em si partes da nossa essência humana, seja no conceito, nas estratégias, em cada traço do projeto e design.

 

Como trazer algo subjetivo como a emoção para um conceito construtivo? Como abraçar o universo da variedade das emoções de forma que em um mesmo ambiente distintas pessoas com todas as suas individualidades possam sentir-se conectados, representados? Como criar esse senso de pertencimento em uma grande escala? Meu objetivo era traçar o conceito da universalidade das emoções no design de interiores, sabendo que as pessoas podem mentir sobre suas emoções, como por exemplo, o próprio Dr. Paul Ekman constatou em seus trabalhos de casos clínicos, nos quais os pacientes mentiram sobre seu estado emocional. Ele estudou pacientes que alegaram não estar deprimidos e mais tarde cometeram suicídio (P. Ekman 1967). Portanto o desafio maior não era exprimir as emoções de forma palpável por exemplo, em um mobiliário, ou com imagens onde as pessoas poderiam se identificar. Todavia, o desafio era sequer questionar as emoções dos usuários daquele espaço, oferecendo um livre percurso, como uma extensão de seu próprio corpo, sem racionalizar o uso dos membros, simplesmente adentrando o espaço e usufruindo das ferramentas dispostas de forma natural, intuitiva, acolhendo suas emoções temporárias.

 

Ao me deparar com a frase “As emoções mudam a maneira como vemos o mundo e como interpretamos as ações dos outros” (Paul EKMAN), compreendi que aquele espaço não seria mais um espaço destinado somente ao acolhimento das emoções, mas também uma importante ferramenta de nivelamento de emocionalidade, de construção da visão de mundo, uma esperança de um futuro, uma sociedade mais empática, mais humana. Portanto, associei aos estudos que me aprofundei de Ekman, as técnicas de Daniel Goleman junto ao Instituto CASEL (Collaborative for Academic, Social and Emotional Learning) onde Goleman é co-fundador. O instituto trata sobre aprendizagem social e emocional (SEL) baseada em evidências, logo meu objetivo passou a ser tratar as emoções dos usuários desse espaço, com base em evidências científicas.

 

Esse trabalho teve um resultado altamente satisfatório. Pude embasar todo o conceito projetual, disposição de layout, cores e padrões multisensoriais nos estudos das emoções de Paul Ekman. Além de trazer algumas das estratégias sugeridas por Daniel Goleman, fazendo uso de espaço para acolher e restaurar a saúde física e mental dos usuários e transeuntes (crianças de 5 a 16 anos, além dos adultos colaboradores) em uma específica camada social, que geralmente é negligenciada por governos e pela sociedade de forma geral. Executando desta maneira um projeto embasado em evidências científicas, visando o melhor que há no universo do design para essa população. É a emoção sendo usada como ferramenta de construção de uma sociedade mais vivaz.

 

Ao longo do processo desse projeto, desenvolvi um método que será apresentado em um futuro artigo com maiores explanações sobre a equipe envolvida no ato projetual, edificado e mensurado. Com o objetivo de que outros profissionais e estudantes da área de arquitetura e afins possam se inspirar e desenvolver suas próprias metodologias embasadas nas áreas da semântica, psicologia, e neurociência.

 


Sobre Jessica Carbone
É Arquiteta e Urbanista, Co-fundadora do NeuroDesign Sense, co-autora do Ebook “Briefing no Design de Interiores”, Membro da Academy of Neuroscience for Architecture – ANFA, Especialista em Neurociência aplicada a Arquitetura, Especialista em Neurociências e Comportamento – PUCRS, Mentora de Neuroarquitetura no Instituto As Valquírias – SJRP, Certificada pela Universidade de Copenhagen em Neuromarketing e Neurociência do Consumidor, e Voluntária na OESA (Asylum Seekers Centers humanitarian Relief) trabalhando junto à famílias e crianças refugiadas de diferentes partes do mundo na Suíça – com o objetivo de criar uma nova perspectiva de vida para os refugiados, com dignidade e cooperação.
Instagram: @arq.jessica_carbone




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