29 maio 2020 enTENDendo as TENDências

por Marina Otte
Os profissionais de áreas criativas são instigados no dia a dia de seus trabalhos a considerar, prever e utilizar as ditas tendências. Mas não somente eles, todo ser humano social é exposto direta e indiretamente às tendências em todo e qualquer aspecto de suas vidas: da gastronomia à musica; da vestimenta ao destino de suas férias.
A primeira impressão que se tem é de que as tendências são criadas única e exclusivamente para aumentar o consumo de maneira a ajudar a vender tanto novas ideias, como estoques encalhados, ou simplesmente manter o mercado funcionando.
Porém, o assunto é sério e não é superficial sendo considerado um fenômeno social e suas explicações são estudadas ao longo dos anos por diversos profissionais incluindo de sociólogos a neurocientistas. Um grande apaixonado pelo assunto é o sociólogo francês Guillaume Erner que afirma que “… as tendências não se limitam a fenômenos frívolos e comerciais. ”
As origens e explicações para as tendências são as mais variadas, é necessário entender os processos correlacionados a estas. As tendências podem ter origem comercial, ou não. Existem diversos produtos que fogem totalmente a lógica do mercado e mesmo assim viram “hits”, geralmente são os produtos considerados kitschs.
Outro exemplo de como a grande maioria das tendências não segue as regras de mercado, mas sim, outros fenômenos sociológicos, é a lógica na escolha dos nomes. Consulte a lista de nomes que foram os mais utilizados em cada ano, pontualmente alguns seguem explicações por se referirem a algum personagem televisivo, mas a grande maioria não.
Existem ainda as tendências cíclicas que vão e voltam com o passar dos anos, a moda tem vários produtos cíclicos. Um exemplo, são as pochetes que passaram de num piscar de olhos de gafe fashion a ícone de moda. Cortes de cabelo, cores, estampas também entram nas tendências cíclicas, assim como vários materiais utilizados na arquitetura e design de interiores, um deles, o granilite.
Outras tendências nunca mais voltam, pois passam a ser “lugar comum”. Algo que algum dia já foi inovador pode passar a ser cotidiano. Contudo, caso caia no esquecimento, aí sim pode voltar a ser cíclico novamente. Confuso? Mas nem tanto, basta olhar os exemplos anteriores, eles caem nas duas afirmações, por um tempo foram taxados de que nunca mais voltariam a ser tendências, caíram no esquecimento, até que triunfantemente e se reestabeleceram.
Existem ainda tendências funcionais que surgem, por exemplo, de novas necessidades reais do ser humano, geralmente ligadas a novas tecnologias. Existem ainda as não funcionais como novas comidas, perfumes ou bebidas.
Além de toda essa carga social, comercial e psicológica, existem ainda explicações neurais. A mimética explica que sim, o ser humano também age por imitação. Os neurônios espelho são responsáveis por uma importante característica do ser humano: o ato de imitar. Os bebês evoluem rapidamente, em grande parte, por esse aspecto.
Ainda quando adultos, também podemos agir por mimética. Nesse ponto surge a figura do “sábio” numa sociedade. O influencer de certa forma faz parte desse processo, todavia grandes sábios reconhecidos são o ponto chave desse movimento como Coco Chanel para a Moda, Oscar Niemeyer para a Arquitetura ou Sérgio Rodrigues para o design.
Além dos sábios, é necessário ter os mensageiros do que foi introduzido pelos sábios e quem vai “vender” a ideia no sentido metafórico, mesmo que possa resultar numa venda real ao final.
Esse processo pode ainda ser potencializado com elementos como a Gestalt que se baseia em Leis sobre os fatores que interferem na percepção visual. Se esses fatores estão associados a estes elementos a serem reproduzidos, a chance de “virarem tendência” são cada vez mais fortes.
Por isso eu sempre costumo fazer um trocadilho nas minhas aulas e palestras as TENDências, apenas TENDem, é preciso enTENDer o que está por trás delas.
As tendências são apostas e diante de tantos exemplos já dados são indícios, previsões da forma como as pessoas irão se portar frente a diversas possibilidades. Entretanto, elas devem ser consideradas sim, especialmente aquelas embasadas em pesquisas.
Nesse processo é possível perceber a importância do comportamento, especialmente quando falamos das tendências para arquitetura e as áreas de design. Ou seja, não um produto em si, uma cor, um material, mas o comportamento humano que leva a escolha desses elementos que podem ou não virar tendência. Lembrem, tendências somente tendem.
Em se tratando de comportamento, uma interessante fonte de pesquisa é a partir da análise das gerações. Aquela divisão tradicional entre baby boomers, geração x, y, z. Cada geração tem anseios e necessidades diferenciadas. Encaram o mundo com suas particularidades. As tendências para cada geração serão diferentes, pense somente na questão da tecnologia (celulares, computadores, internet) e como ela chegou em sua vida. Para a geração z, ela não chegou em momento algum, esses indivíduos já cresceram nela.
Outro fator preponderante para o acontecimento das tendências são os chamados aceleradores. O que estamos vivendo no momento, a pandemia pelo COVID-19, é um chamado acelerador.
Muitas das macrotendências dos próximos anos, apontadas por grandes pesquisadores no assunto, tendem a acontecer mais rapidamente. Uma delas é o home working e a necessidade de espaços de home office. Áreas de arquiteturas e arquitetura de interiores tendem a ser valorizadas a partir do entendimento das pessoas de sua relação com os espaços de suas residências a partir deste acelerador.
Uma aposta pessoal é que passemos a adotar uma prática oriental: deixar os sapatos ou do lado de fora de nossas residências ou no máximo até a porta de entrada. Isso resultaria numa mudança de configuração do hall de entrada ou até mesmo inclusão de novos móveis.
Mas lembre-se, isso é apenas uma tendência… que pode tender ou não a acontecer!