Arquitetura escolar – novos desafios



Por Sigfrido F. C. G. Graziano Junior

 

 

O ambiente de ensino é algo que reflete a sociedade e para onde ela caminha, pois, a partir da infância, posteriormente na adolescência e idade adulta, aprendemos com trocas de experiências, somamos em conjunto, compartilhamos conhecimento, que é uma coisa que não se perde quando dividimos.

 

A escola passou da casa do mestre, das caminhadas com a criança, aos bancos de igrejas, salas de treinamentos, bibliotecas e salas de estudos, salas de aula tradicionais para novos ambientes de grandes auditórios, diversos recursos audiovisuais, aulas dinâmicas para reter a atenção, despertar interesse, mostrar caminhos e, mais recentemente, a busca de novos rumos, já que pais, professores e escolas devem permitir, ensinar e incentivar a busca e desenvolverem as próprias respostas.

 

Vem o ensino à distância, que já foi só com apostilas e livros e, mais recentemente, com áudios, vídeos e aulas remotas ao vivo ou gravadas.

 

A arquitetura escolar mudou ao longo dos últimos séculos, com as instituições dotadas de espaços pedagógicos, administrativos e de serviços, esporte e lazer, com boa parte a ser compartilhada com a comunidade próxima, moradores, pais e simpatizantes, adultos que perderam oportunidades e voltam a aprender e a usar a escola

 

E vem uma situação nova: uma doença internacional em todos os continentes, perversa e avassaladora, trazendo muitos cuidados novos no convívio em sociedade. O homem, gregário e social, precisa se distanciar – mas não se isolar do convívio, das trocas de serviços e necessidades, precisa comer, se vestir, se higienizar, trabalhar, receber o trabalho dos outros e, além de tudo isso, se proteger da COVID-19 e de outros males, que ainda permanecem.

 

A sociedade mundial revê seus hábitos, cria rituais de contato, estabelece novas regras de compartilhamento e convívio em família, no trabalho e lazer, na religião, saúde, compras e, também, na educação: quando a criança vai para a escola, os pais podem ir para o local de trabalho, mas coloquemos as seguintes situações:

    • se o ensino for presencial, deverá haver maior distanciamento e, com isso, menos alunos em sala de aula; consequentemente, mais salas de aula e mais professores, ou ainda, mais escolas;
    • se o ensino for híbrido, ou seja, parte dos estudos em casa, de forma não presencial e, parte dos estudos na escola, de forma presencial, os pais, nesta última situação, poderão sair de casa; no entanto, a pergunta é: e quando as crianças tiverem aulas online, em casa, quem ficará com a elas? Os acordos de trabalho também poderiam envolver essas situações, trabalhos híbridos conciliados com os cronogramas de aula presencial e ensino não-presencial?
    • se o ensino for totalmente de forma não presencial, deverão ser revistas as ações pedagógicas, planejamento, disponibilização de material didático e orientação para uso da tecnologia, com uso da internet. Perguntamos: todos terão condições financeiras para isso?Todas essas medidas devem ser discutidas com gestores privados e públicos, envolvendo as secretarias estaduais e municipais de educação e de saúde, pais, professores e empregados das áreas de apoio e procurar ajustar com o trabalho dos pais.

 

A arquitetura na nova escola – ou ainda, a nova arquitetura da escola – deve rever dimensionamentos de salas e demais ambientes, em um conjunto mais amplo que é a própria revisão da sociedade.

 

Haverão outros ambientes além da sala de aula, com pedagogias e tecnologias para atividades individuais, trabalhos em grupos, flexibilidade de ocupação, manter uma distância segura – como mesas redondas maiores, mais grupos e menores; cuidados semelhantes em bibliotecas, laboratórios, refeitórios com lugares mais espaçados e horários alternativos, cantinas e locais para lanches eventuais, opção ao ar livre, grandes espaços cobertos mas abertos permitindo ventilação; concessão de redes sem fio públicas e privadas, para tablets, notebooks, celulares/smartphones, aplicativos pedagógicos etc.

 

Também deve haver rearranjos familiares segundo as opções de trabalho dos responsáveis, turnos alternados, possibilidade de ter o próprio equipamento e internet ou a escola proporcionar equipamentos cedidos aos alunos para serem devolvidos posteriormente.

 

O modelo pedagógico pode lançar mão da chamada “aula invertida”, onde o aluno recebe o material e estuda previamente, realiza exercícios e, no contato com seu grupo e professor, as dúvidas são discutidas e resolvidas; isso pode, até mesmo, ocorrer de forma remota, por áudio ou vídeo conferência ou vídeo aula.

 

Podem ser organizadas atividades externas, participação de pais e alunos na construção desses ambientes e nas atividades; atividades lúdicas e a informática para despertar interesse e reter a atenção com jogos e aplicativos pedagógicos, preparar os ambientes com as recomendações de prevenção como manter distanciamento entre locais: onde se sentar, comer, jogar, estudar, atividades de leitura e entretenimento e, para isso, é interessante demarcar as posições com marcas no piso, por exemplo.

 

A pandemia permanece, há perspectivas de mutações e novas mudanças sociais; ainda não existe apenas um “novo normal”, mas, sim, caminhos já criados e ainda a serem propostos, imaginados, simulados, discutidos, experimentados, uns dando certo, mas nem sempre, como “novos normais”.

 

Sobre os protocolos de prevenção: orientar e fiscalizar quanto ao uso de máscaras durante o tempo todo e serem substituídas, no máximo, a cada 3 horas, higienizar as mãos frequentemente, manter portas e janelas abertas permitindo o fluxo de ar e em conjunto com o ar condicionado. A esse respeito, deve haver perda da eficiência da climatização, mas há benefícios trazidos pelo fluxo de ar, que leva as gotículas para o exterior, auxiliando na redução da contaminação. Também é importante aumentar a frequência com que as superfícies serão higienizadas, várias vezes nos turnos de uso.

 

Vamos todos reaprender pois a vida passou a ser uma nova escola para todos, onde devemos rever nossos antigos hábitos e a função da escola, que não deve ser percebida (ou vista) apenas como um repositório dos filhos, mas sim um local de troca de experiências da própria casa, sociedade, nação e todo mundo, juntos.

 


Sigfrido Francisco Carlos Giardino Graziano Junior (Sig):
É graduado em Arquitetura e Urbanismo pela UFSC (1986), com Mestrado em Engenharia de Produção e Sistemas pela UFSC (2000) na área de Conforto Ambiental – foco em Iluminação, Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho (2000) e Especialização MBA Master BIM: Ferramentas de Gestão e Projeto pelo IPOG (2021). Atua no mercado desde 1986, com experiência profissional como projetista e consultor em espaços residenciais, institucionais, clínicas e instituições de ensino, com ênfase em Eficiência Energética e Sustentabilidade. Participou de diversos congressos e seminários nacionais e internacionais nas áreas de Ergonomia, Eficiência Energética e Sustentabilidade, com trabalhos publicados no site da Philips Iluminação, Revistas Lume Arquitetura e CADesign e jornais. É profissional de Arquitetura e Engenharia de Segurança do Trabalho na Caixa Econômica Federal, na área de Gestão de Pessoas, atividades de Segurança do Trabalho, ergonomia, conforto ambiental e acessibilidade. Docente desde 1996 em cursos de graduação e pós-graduação e atua desde 2011 como professor convidado no IPOG nos módulos relativos à Arquitetura de Instituições de Ensino, Sustentabilidade na Arquitetura e Certificações Ambientais.
Instagram: @sigfrido_graziano_junior




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